Beastars – Se Elite e Zootopia tivessem um filho

Beastars – Se Elite e Zootopia tivessem um filho

Beastars, a obra de Paru Itagaki, que foi adaptada para anime no ano passado e, atualmente, encontra-se disponível mundialmente pela Netflix se passa em um universo onde os animais são “meio humanos” e vivem em sociedades organizadas como as nossas, tendo conquistado a paz e a harmonia da cadeia alimentar… Ou será que não?

Estava muito ansiosa para falar desse anime, mas devo admitir que precisei de um tempo para absorver todas as informações. Hoje vai ter assunto para todos os tipos de otacos! Românticos? Chega mais! Veganos? Toca aqui! Amantes de Stop Motion? Há quanto tempo! Protetores dos animais? Ôpa, tão bão? Furry Fans? Eu conheço um psicólogo que pode aju- Brincadeira, vão entrando que hoje vamos falar de Beastars.

Beastars

Ai ai… O que dizer, né? Beastars é uma joinha bruta escondida atrás daquela típica fachada de romance adolescente do cara que se apaixonou pela refeição (podem ir entrando os fãs de Crepúsculo. Tem cadeira vazia ali no fundo, galera).

Quando comecei a assistir tinha intenção de me entreter com algum romance bonitinho atrelado a uma trama mais clichê ainda de investigação. Era zero expectativas e que surpresa boa eu não tive ao encontrar um pedaço raro de animação computadorizada bem feita e um roteiro bem do doido (no melhor dos sentidos).

Pega suas crises existenciais da juventude e vem comigo, otaco.

Logicamente, que sem spoilers.

Beastars

Origens e Enredo

Logo no começo já somos apresentados a uma situação de assassinato. Um aluno herbívoro do colégio Cherryton é violentamente morto por um carnívoro misterioso dentro do próprio internato. Ao mesmo tempo que essa trama se desenrola, nosso protagonista, o tímido lobo cinzento, Legoshi, percebe, horrorizado, o despertar de seus instintos carnívoros mais viscerais e violentos, assim como um crescente interesse amoroso por sua senpai, a coelha anã da Holanda, Haru.

Pois é, se for ver bem, é uma história sobre puberdade. Mas, garanto que vale a pena.

E, sim, você leu certo. O casal é um lobo e uma coelha anã… E, não, eu não sei como isso é possível (acho melhor não fazer muitas perguntas sobre esse assunto).

Beastars
Já dá para notar que essa relação tem 402% de chance de dar errado. Mas, quem somos nós para julgar o amor?

Vale a Pena?

QUALIDADE 1 – PAR ROMÂNTICO

Legoshi e Haru, sem sombra de dúvida, entram para o hall de casais errados, que a gente sente até um peso na consciência de shipar (já falamos de um casal desse tipo aqui no site, durante o review de Sankarea. Os dois casais a 80 km/h, qual deles te deixa mais culpado?).

Mas, além de se complementarem de um jeito esquisito e serem fofos juntos, ambos têm personalidades cativantes separados, com complexidades muito palpáveis para nós, otacos com sentimentos. O interessante também é o fato de que essas personalidades estão invertidas do modo como geralmente costumam ser nos romances e é bem didático poder olhar a diferença de abordagens quando se tem um protagonista corpulento e “predador”, porém tímido, que se apaixona pela mocinha pegadora, experiente e, ao mesmo tempo, delicada fisicamente, uma “presa fácil”. Ambos se encontram presos em estereótipos muito difíceis de sustentar e descobrem, um no outro, grandes parceiros que são naturalmente opostos. Como tais, serão eles capazes de se permitir ser quem são, tendo o amor como régua da relação ou serão consumidos pelo que se espera de suas naturezas? Tanto em relação as imposições sociais, quanto as mentais, particulares deles e fruto de suas experiências. O que nos leva ao próximo tópico.

QUALIDADE 2 – QUEBRA DE EXPECTATIVAS

 Nada é o que parece ser e tudo depende de suas decisões e de quem você quer ser como pessoa.

Muito se discute do quanto de nós é biologicamente determinado e do quanto é socialmente construído. Beastars leva isso a um nível extremo, já que estamos falando de animais que foram socializados. Ou seja, o quanto de sua mais pura natureza e instintos é, de fato, incontrolável? Você pode ser perdoado por machucar alguém que, tecnicamente, se enquadra em sua dieta alimentar?

Questões como “O que vale a pena sacrificar para ter ‘paz’ e ‘ordem’?” ou “Até que ponto estamos apenas permitindo que a síndrome de Gabriela tome conta de nossas ações e fazemos apenas o que a sociedade aprovaria, sem pararmos para pensar se faz real sentido para nós como indivíduos de moral particular?”

Para quem não pegou a referência, aqui fica um pedaço desta bela canção:

Eu nasci assim, eu cresci assim

Eu sou mesmo assim

Vou ser sempre assim

Gabriela, sempre Gabriela…

Pois é, amigos. É algo a se pensar. E seremos apresentados a diversos personagens que quebram essa regra do que é esperado deles (às vezes, de toda a espécie), para o bem e para o mal, e temos essa oportunidade de olhar a nós mesmos.

O que é esperado de você? O quanto você se apropria de sua própria identidade, de seus desejos e objetivos? O quanto você deixa outras pessoas definirem essas circunstâncias por você?  Você está agindo ou reagindo?

QUALIDADE 3 – PRODUÇÃO

Ok. Essa me surpreendeu. Nesse quesito esse anime é bem impressionante em certos aspectos, com destaque, é claro, para a abertura toda em stop motion, um trabalho complicado para ser incluído em animes de temporada e, portanto, um esforço a se reconhecer.

Abertura em stop motion

Em questão da animação em si eu tenho que dizer que o CGI até teve uma certa dignidade. Não é minha forma de animação favorita, mas não tive vontade de arrancar os olhos enquanto assistia, como alguns outros exemplos do mercado já me fizeram sentir (alô, Berserk?).

FALTA 1 – ESQUECERAM DO ASSASSINATO?

Primeiro de tudo, aquele que eu achei que seria um dos plots mais importantes: o assassinato??? Quer dizer: O fato, praticamente, nem é citado depois dos primeiros episódios. Eles só vão retornar o assunto no final e tudo pareceu uma desculpa frouxa para nos fazer duvidar do protagonista e seu caráter, mas… É, não funcionou como cliffhanger ou acrescentou qualquer coisa. O romance foi mais interessante para mim, no fim das contas.

FALTA 2 – AQUELE PANDA

Eu sinceramente não entendi bem o ponto de incluir o personagem do Panda terapeuta da maneira como foi feito… Para qual fim ele serviu ao final de tudo? Ele não me pareceu ter uma influência tããão significativa sobre o protagonista (como outros velhos sábios que vemos por aí) e só aparece em momentos meio aleatórios como recurso de roteiro para salvar o Legoshi… Sei lá, achei o personagem meio subdesenvolvido e até desperdiçado.

FALTA 3 – QUAL SERÁ O DESTINO DE HARU

Tem uma fetichização meio bizarra em cima da Haru em alguns momentos que me fizeram questionar quais seriam as reais intenções do autor em escrevê-las dessa forma. Talvez tenha sido culpa das minhas próprias expectativas, mas eu esperava um certo respeito com a personagem, no sentido de não a tratar de forma tão objetificada.

A sexualidade é uma parte essencial da Haru e, como tal, deveria ser tratada mais seriamente para o desenvolvimento da personagem e não ser usada para criar cenas baratas de fan service (**Spoiler Alert** A cena específica que eu tenho em mente é a do sequestro/cativeiro da Haru pelos leões **Spoiler Alert**).

Deixando claro que não estou falando da característica dela de ficar com vários caras, mas sim de cenas específicas em que o autor a coloca para explorar o fan service e isso não acrescentar para a personagem. Só porque ela explora abertamente sua sexualidade não quer dizer que ela deve ser sexualizada o tempo inteiro como sua única característica… Não sei se deu para entender…

Beastars vale a pena?

E é isso pessoal. Beastars é um anime muito legal e que traz diversas novidades para este vasto mundo otaco que tanto amamos. Definitivamente vale a pena dar uma chance nessa quarentena.

Se você gostou do review, não se esqueça de compartilhar e lembre-se que sua opinião educada é sempre bem-vinda nos comentários!

Até a próxima!

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Mari Bortuluzzo

Universitária porque o capitalismo obriga e otaku por amor. Já que não dá pra engrenar na carreira de Hokage, a gente escreve sobre os nossos animes favoritos e espalha a palavra desse universo tão vasto e divertido.

Um comentário em “Beastars – Se Elite e Zootopia tivessem um filho

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